Ainda não sei o que é a velhice mas, também ela, não é o que imaginei. Pensei que a velhice fosse mais do que dores, que trouxesse sabedoria, aceitação, tranquilidade. Pensei que, dado que o corpo obriga a abrandar, houvesse mais calma para saborear o que já se viveu, e mesmo havendo dificuldades, que se soubesse apreciar o que se construiu. Mas não é isso que vejo na minha mãe.
A minha mãe sempre foi enérgica (até demais), com uma força de vontade férrea, trabalhadora, dedicada à família (criou 3 filhos e ajudou a criar 5 netos) e, embora sempre tivesse sido "um bicho do mato" tinha os seus hábitos de ir passear, leia-se visitar as irmãs, todos os santos domingos e vinha renovada. De há uns anos para cá tudo mudou - tem a auto-estima do tamanho de uma ervilha, precisa de constante atenção e que a elogiem muito, e passa a vida a queixar-se. Ou das dores, ou do tempo, ou da casa, ou do meu pai, ou dos filhos, ou dos astros, qualquer coisa serve. Nunca quer ir a lado nenhum nem está bem em lado nenhum. Se vai passear, não gosta, se fica em casa, fica com a neura.
Tem dias que nos (os filhos) munimos de paciência, afinal é nossa obrigação, e começamos uma conversa cheios de boa-vontade mas esgota-se rapidamente, ela tira qualquer um do sério - é tudo um grande drama. Ou começa a saga das doenças (raios partam os programas para reformados na tv portuguesa!) "diz que as antenas provocam cancro" ou a das notícias do governo "que são uns ladrões". E, se a contrariamos, fica de lágrima no canto do olho, a tremelicar o queixo, e a resmungar que ela tem razão, que nunca percebe nada, que ninguém a leva a sério. E lá damos o dito por não dito, ela fica com a opinião dela e nós enfiamos a nossa no saco para levar para casa.
Isto deixa-me triste, gostava que ela tivesse chegado a um ponto na vida em que pudesse olhar, confortavelmente, para trás e apreciasse o que construiu, mas não, parece que está meia perdida. Não tem saúde para continuar a trabalhar nem vontade de sossegar e ficar em casa. Vive num constante descontentamento, como se nada fosse suficiente para se alegrar. E eu fico sem saber como ajudar.