Guilty pleasures da vida
Confesso: adoro trash tv. Gosto de programas absurdos, com gente estranha e histórias que me façam rir e, se possível, abstrair-me por completo da minha vida durante uns minutos. É uma espécie de reset, ou de desacelerar do ritmo dos dias de trabalho, e agora com este tempinho a convidar as mantinhas no sofá e uma vela acesa ainda sabe melhor.
E o que é que eu ando a ver religiosamente? Casados à primeira vista. Já tinha visto as temporadas quase todas da Austrália, Nova Zelândia, Reino Unido e Espanha e, como tal, a esperança no sucesso do amor fabricado em laboratório já era nula. Durou uma ou duas temporadas, nada mais. Não deixei de acompanhar as várias temporadas e vários países porque fascina-me a cabeça das pessoas. Divirto-me a ver até onde chegam. Faz-me sentir um ser normalzinho, vá. De todos os que acompanhei, a versão espanhola foi a mais crua. Não há cá papas na língua, diz-se tudo, sem pudores. Também eram feios como a noite mas nada a teve a ver com o insucesso da coisa.
Agora em português é mais giro porque é perto da nossa porta, e pensamos e se fosse eu? E se fosse o meu primo? A senhora da frutaria? Não é ninguém conhecido meu, com muita pena minha, mas divirto-me à brava. O meu casal preferido até agora são os mais velhos do Porto (não me lembro dos nomes), uns castiços e cheios de vontade de viver aquilo. Os outros assustam-me um bocadinho, principalmente, aquele senhor de Caldas da Rainha, que tem aquele ar lânguido, que me faz encolher no sofá de cada vez que o vejo. Até ver, a noiva dele gosta e isso é que é importante. Eu teria fugido a sete pés logo no primeiro beijo, mas isso sou eu, que não gosto cá de agarranços na rua, muito menos com alguém que acabei de conhecer há minutos (marido ou não).
Tenho feito um esforço enorme para não ver capas de revista nas papelarias, não vão spoilar-me o programa, gosto disto em doses diárias e sem me estragarem o efeito surpresa, que só a realidade é capaz.