Do valor de cada coisa
Esta manhã o despertador tocou e eu parecia uma alucinada a tentar perceber o que era aquele som, quem era eu, onde estava, que dia era. Quando durmo, durmo mesmo, e ainda bem, acordei revigorada e a sentir-me gente. Uma noite bem dormida e eu sinto que tudo está bem no mundo, que o dia está maravilhoso e as pessoas são maioritariamente boas. Depois, aconteceu a vida. O mau humor de uns, a bipolaridade de outros ou a apatia, a falta de vontade em estar bem, vão contagiando o meu estado de espírito. Como dizem os brasileiros, cortando o meu barato, e eu fico duplamente mal disposta - por contágio e fula da vida por deixar-me influenciar.
Parece que é cada vez mais difícil encontrar pessoas equilibradas, minimamente de bem com a vida. Não digo que não é legítimo ter insatisfações, frustrações, dias menos bons, eu tenho e não são poucos, mas... E os outros? Os dias em que não faz vento e a temperatura está mesmo bem? Os dias em nos fazem um elogio só porque sim ou comemos o nosso prato favorito? Os dias em que acordamos sem dores e sem preocupações de maior? Será que os vivemos de forma tão acentuada como os maus? Não. Habituamo-nos ao que é bom e desvalorizamo-lo. Minimizamos o bom e damos ênfase ao mau. Possivelmente, é uma questão cultural, está enraizada na nossa maneira de ser, mas não deixa de ser triste.
Vivemos a olhar para o nosso umbigo, para aquilo que nos aborrece e esquecemo-nos de nos distanciarmos, de verificar que um mau dia é apenas um mau dia e não uma má vida. Esquecemo-nos que influenciamos os outros, à nossa volta, e que custa tão pouco fazermos melhor e fazermos bem a nós próprios, até fazendo bem aos outros.
Às vezes, para melhorar a disposição basta parar. Respirar apenas. Dar menos importância. Porque, feitas as contas, nenhum aborrecimento vale a pena.