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Rir e Comer Bolachas

Família é:

 

 

Hoje relembrei a importância de termos sempre por perto aqueles nos amam. Mesmo quando, e principalmente quando, mais os queremos afastar. Porque estamos tristes, porque não sabemos o que fazer, porque achamos que sabemos, porque nos queremos sentir capazes ou independentes, ou porque já não sabemos nada, inclusivamente se os queremos ouvir.

 

Hoje o desespero de estar na reta final do 1º semestre do mestrado foi tanto que esqueci por completo porque é que o decidi fazer sequer. Disse que queria desistir e que nem sequer havia propósito para continuar. Disparatei com "eu nem sequer quero dar aulas!!". Tem um fundo de verdade mas está longe de a ser. Mas talvez isto seja tema para outras núpcias - para umas em que eu não tenha 5 trabalhos finais de cadeira para fazer em 8 dias.

 

E foi quando o meu namorado disse no tom mais doce que lhe conheço e, provavelmente, que conheço de qualquer ser humano "é para criarmos a nossa escola, lembras-te?". O desespero era tanto que eu, na minha imaturidade e birra de criança farta de jogar a este jogo, respondi com um grunhido e algo muito muito bruto como "então faz tu o mestrado!".

 

(não, não foi bonito...) (mas não se preocupem, porque quem me conhece sabe que isto até uma resposta normal para um estado de stress)

 

Apesar de não ter respondido nada bem naquele momento e de me sentir absolutamente perdida e desesperada, foi tão importante que tivesse acontecido. Tinha a minha tia, Trocatintas, incrédula a olhar para mim por vezes dizendo e por vezes pensando "isso não é nada teu, Cisne!!" - o que me lembrava que de facto aquela não era eu; tinha o meu namorado com um olhar compreensivo de quem diz "eu sei que é difícil mas vou deixar-te estar, pois não tenho a menor dúvida de que conseguirás fazer tudo aquilo de que tens medo"; e tinha a minha mãe, Bolacha Maria (que também está no meio dos tubarões no ensino superior), a olhar para mim a tentar perceber o que dizer pois sabia exactamente o que eu estava a sentir - o que se pode querer mais que alguém nos compreender totalmente?

 

E portanto hoje vou para a cama com mais um trabalho feito (graças a eles três e à força que tenho a certeza que não sabem que me deram) e com a certeza de que posso ter os esgotamentos nervosos que quiser, mas que esta família aguenta tudo e principalmente, aguenta uns aos outros.

 

Espero um dia poder fazer uma peça de dança sobre família. Uma peça bonita, com que as pessoas se identifiquem...e que tenha muitos finais felizes apesar de tudo, como a minha tem :)

 

Cisne

Isto aqui está mais parado que o sistema informático das Finanças no fim do mês

Em compensação, eu não paro. Tem sido trabalho, trabalho e mais trabalho. Saio do trabalho e vou para casa dos meus pais para ajudar qualquer coisa, pouco ou nada ajudo mas o facto de estar presente faz-me sentir que estou a contribuir para aliviar um bocadinho o trabalho da minha mãe. O AVC que o meu pai sofreu veio meter tudo em perspetiva, não só aquela perspetiva boa em que damos graças por estarmos vivos e com saúde, mas aquela perspetiva chata de como é tudo tão relativo.

Por exemplo, tenho falado mais agora com o meu pai, e ele comigo, do que em 35 anos de existência. Ele nunca foi homem de palavras, eu sempre procurei a minha mãe para tudo e assim funcionámos durante toda uma vida.

Outro exemplo ainda, a minha mãe, que achava que queria fazer voluntariado e ter a seu cargo pessoas idosas, está a enlouquecer com a privação de sono (é preciso mudá-lo de posição várias vezes por noite e ajudar a fazer xixi) e com o chamamento do nome dela de 5 em 5 minutos.

Mais um exemplo, a minha irmã, que trabalha conta própria e não tem tempo para ir ao médico porque não vai fechar a porta, há 3 ou 4 semanas que fecha a porta, todos os dias úteis, para ir ao hospital ou ao médico, ou à fisioterapia, ou ao centro de saúde, ou a todos no mesmo dia.

 

Podia continuar com os exemplos mas é mais simples dizer que todos fomos, e somos, afetados. E fazemo-lo com gosto, mas com sacrifício. Tentamos fazer um ar natural, de que não custa nada, que temos tempo, que é tudo temporário e sorrimos e tal, mas a verdade é que é difícil. Para ele principalmente, que se há-de sentir impotente perante a sua condição de dependente. Porque continua a ser a mesma pessoa mas o corpo já não obedece. Para a minha mãe, que mal pode com ela e não tem mãos a medir, nem um bocadinho sequer para descansar, e muito menos para dormir um sono tranquilo. Para nós, os filhos, com saúde e energia para dar e vender mas que não a podemos utilizar para nada que os ajude porque trabalhamos que nem ursos e já lá chegamos estourados (e tarde), e que andamos como se nos movêssemos sobre um terreno de minas, porque temos medo de o melindrar ou magoar, ou pior ainda, de dizer qualquer coisa que a nossa mãe vá entender como uma afronta, ou uma crítica (que é basicamente qualquer coisa que possamos dizer). Quase não temos vida própria e, na realidade, nada fazemos.

E a preocupação com a preocupação? Sim, também temos isso. Nós preocupamo-nos porque os outros estão preocupados. Em loop, como maluquinhos.

Às vezes, esta enorme rede de segurança que é a família é tramada de gerir.

Ah a família...

... onde somos sempre bem acolhidos, entendidos e estimados. Que seria de mim sem a família?

 

Sobrinha mais nova escreve texto de fazer chorar as pedras da calçada, dedicado às mulheres fortes da família - a mãe, a irmã, ela própria e eu. Mãe responde ao texto e retribui o elogio dizendo que se acha não a mais forte mas a de melhor feitio (outra que precisa do teste da bazófia), a outra filha a mais sorridente e determinada, a filha que escreveu o texto, ela sim, é a mais forte e orgulhosa... E eu... Sabem o que sou eu? A mais "galinho-da-índia"!

 Para que conste: isto é bullying familiar! Humpf!