A epifania
Passo a vida cansada, aborrecida, zangada, revoltada: o dinheiro, ou a falta dele, tira-me saúde e tranquilidade, e julgava que a depressão que tive há três anos e tal tinha levado o resto das coisas boas que faziam parte da pessoa que eu era, e de quem gostava. Claro que tenho dias bons, semanas boas, muitas vezes nem se nota o meu constante descontentamento, uma faculdade que venho a desenvolver cada vez melhor.
Mas sabem aqueles cliques que se dão de vez em quando? Quando nos cai a ficha e vemos, claramente, aquilo que nunca percebemos antes? Quando tudo faz sentido e vemos a luz? Pois foi ontem que se deu a minha epifania. Tenho que me refrear para não desatar a mudar móveis de sítio, cortar novamente o cabelo ou pintá-lo mais escuro, dar a minha roupa toda, e por aí fora... Até porque aquilo que percebi foi que a raiz de tudo, a subtração dos problemas, a causa ou causadora é simples: sou eu. Sem vitimizações, nada de "ah e tal, o problema sou eu que sou burra", porque o problema está, de facto, em mim. Tenho andado a praticar o destralhamento o casa, ou a tentar, vá, é que aquilo não vai lá com duas cantigas, mas só agora percebi que o destralhamento da minha cabeça é bem mais importante. Há ideias, crenças, vícios, rotinas para eliminar.
Tenho andado à procura da pessoa que já fui, tão mais alegre, tão leve, tão brilhante... Estava soterrada, coitadita, em tralha emocional.