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Rir e Comer Bolachas

Ansiedade

Odeio com todas as minhas forças esta doença. Faz-me ter medo de perder o tino e bandear-me para o outro lado, o lado das pessoas loucas. Tenho medo que, um dia, sinta alguma dor tão forte, não aguente o embate e deixe de ser eu e passe a ser novamente aquela pessoa de olhos sem expressão, que não sente nada e vive apenas porque o corpo fá-lo sozinho, automaticamente. 

Ontem, depois de um dia de pequenas chatices, depois de levar o meu filho aos avós, depois de fingir que tudo estava bem para não alarmar ninguém, entrei no carro e explodi. Uma angústia tão profunda, um desconforto tão grande que sentia a cara em chamas e todo o corpo gelou, sem que tivesse frio. Queria chorar mas tinha medo de não conseguir parar. Chorei. Chorei alto e com soluços, quase que me faltava o ar, enquanto fazia o trajeto até casa. Queria falar com alguém que soubesse como fazer aquilo parar. Falei. Quanto mais falava, mais piorava. Porra! Talvez seja isso, talvez precise de falar. 

Hoja acordei (muuuitooo tarde) normal. Tenho uma dor de cabeça brutal, os músculos doridos de tanta tensão mas estou calmíssima. Sem comprimidos mágicos. Não me bandeei para o outro lado, continuo a ser eu e a angústia passou. Já nem me lembrava quando tinha sido a última vez que me senti assim mas a primeira faz hoje sete anos. 

Um post que adivinho ser longo

Tenho andado arredada da escrita no blog. Não é que tenha pouco para dizer, pelo contrário, a minha vida tem pouco glamour mas é rica em drama... É que não sei como escreva. Nem decidi ainda se quero escrever porque a escrita é como uma racionalização dos pensamentos, é como se os ordenasse, se lhes desse corpo e, por consequência, um destino. Se por um lado é bom, por outro obriga-me a confrontar com os meus próprios pensamentos. Realmente vê-los.

 

Há quatro anos, sensivelmente, foi-me diagnosticada uma depressão. Não pelos sintomas comuns à depressão mas porque um dia a minha mente fez tilt e tive um ataque de pânico que me fez fugir do local de trabalho, lavada em lágrimas, a dizer que tinha enlouquecido. Não sabia do que tinha medo, ou se era medo, só sabia que tinha que sair dali. O coração disparou, tremia tanto que não ficava de pé e o pé nem conseguia pisar o acelerador do carro com força suficiente para que andasse. Pensei, mesmo, que tinha enlouquecido. Achava eu que aquilo tinha acontecido de repente mas agora sei que não. Uns meses antes comecei a sentir taquicardia, dificuldade em respirar, vontade de chorar sem motivo que o justificasse, tensão arterial alta, enfim, estava convencida que tinha um problema cardíaco. Ou renal. Mas exames mostravam o contrário, estava sã que nem um pêro embora tivesse dias a sentir-me o pior ser vivo à face da terra. Depois tinha outros em que tudo corria de feição e esquecia-me. Tornei-me especialista em esconder isto de toda a gente. Não me perguntem a razão porque não sei. E deixei andar, até chegar a um ponto em que o próprio corpo (e mente) obrigaram-me a parar.

Seguiu-se o normal. Médico, medicamentos, psiquiatra e semanas a dormir. Não distinguia dias da semana, dormia dias e noites inteiras, andava apática. Vivia há poucos meses com o meu marido e sei que para ele foi difícil, vivia com um zombie, eu não era uma sombra da mulher de quem ele gostava, eu era outra pessoa. Mesmo para o resto da família, que não vive comigo, foi complicado porque sentiam-se impotentes. Acho que é o que mais custa a quem está à volta, o não poder fazer nada, não saber o que dizer, como lidar.

 

Isto para dizer que era escusado chegar ao ponto que cheguei se tivesse identificado os sintomas. Nem os médicos diagnosticaram coisa alguma porque escondia, ou negligenciava, o que sentia. No fundo tinha vergonha... Tanta gente com problemas a sério e eu, que tinha acabado de endireitar  (mais ou menos) a minha vida estava assim. A minha vida era catita. Não tinha porque me sentir assim. Sempre acreditei que depressões era coisa de gente desocupada e fútil. Gente fraquinha da cabeça. E eu não era nenhuma delas.

 

Custou muito a melhorar. Tive dias em que chorava por achar que não voltaria a ver a luz ao fundo do túnel. Desenvolvi vários medos, que me acompanham ainda, embora em menor escala. Houve um dia que nem sequer queria entrar para a banheira - tinha medo. De quê? Não faço ideia. Mas melhorei. Tenho medo de dizer que me curei embora já não esteja medicada. Tenho medo porque tenho muito, muito presente aquilo que sofri. E sei que uma parte de mim não é recuperável. Que algumas coisas não serão iguais e terei sempre que vencer medos, e barreiras, e obstáculos como uma reunião de pais é um verdadeira tormento. A que me obrigo a ir para não alimentar este medo, irracional, de alguma coisa que não sei o que é, e que nem deve existir.

 

Se está aí alguém que já sentiu algo parecido: falem com alguém. Um médico, um amigo, qualquer pessoa, mas façam alguma coisa. Não esperem que passe por si, que são manias, fanicos de gente desocupada e infeliz. É uma doença e trata-se. E cura-se.