Sabes que há alguma possibilidade de adormecer em pleno horário laboral
Quando sopras o telemóvel e escaldas a língua com o café.
Até entrar na cama eu tenho sono. Tenho tanto sono que até me custa um raciocínio tão complexo como somar dois mais dois, depois entro na cama e, se não adormeço nos dez segundos seguintes, não consigo adormecer. Volto-me para um lado, volto-me para o outro. Fecho os olhos e penso que preciso é de relaxar, que isto é tensão acumulada, e assim que penso em tensão acumulada começam as dores no pescoço e zona dos ombros e tento afastar o pensamento para outra coisa qualquer. Concentro-me na respiração e tento sossegar mas imediatamente lembro-me que me esqueci de qualquer coisa fundamental e levanto-me. Já que estou de pé, aproveito para comer - tinha ali um ratinho que também não ajuda a sossegar. Deito-me. Viro-me e fecho os olhos. Começo a ouvir os barulhos do andar de cima. Nitidamente, ouço um homem a fazer xixi (sim, distingue-se, acreditem) seguido de descarga de autoclismo sem que se ouça o barulho da torneira... (Blhéca!) Abre gaveta, fecha gaveta, fecha os estores. Distraio-me a pensar que as pessoas são badalhocas e eu aperto as mãos desta gente (não destes vizinhos mas de pessoas que não sei se lavam as mãos), para cumprimentar, e ainda não larguei o vício de roer as unhas. ( Ca nojo) Vou deixar de roer as unhas! Que vício mais infantil. E viro-me para o outro lado. Inspira e expira lentamente, para ver se dormes. Que horas são? Xinapá, amanhã vai ser um circo para me levantar... E ouve-se o portão da garagem a abrir e penso que é a vizinha que trabalha por turnos, e penso que deve ser tramado chegar a casa tão tarde, já com os filhos deitados e a viverem horários trocados e vejo que, afinal, a minha vida até é simples, há piores e tal. E começa, assim, mais uma noite de pensamentos parvos e poucas horas dormidas.