As mulherzinhas
Lembro-me sempre deste livro quando as gajas da minha família estão juntas, e onde eu me incluo. Baralham-se parentescos e quem está de fora nem sempre acerta quem é quem. E quem está dentro também não. Não sei se é genético, se foi da educação, se é o resultado dos condicionantes de crescer numa família enorme, ou até de ter crescido na aldeia, só sei que as filhas são mães, as mães são amigas, as amigas são irmãs, as irmãs amigas, as sobrinhas irmãs, as tias são avós. Os problemas de uma são sofridos por todas e as preocupações são, por isso, constantes. Andamos com o peso do mundo às costas mas à vez. Quando os problemas são meus, escondo até não aguentar mais, para não preocupar, para não ser mais um peso para as outras, e sei que elas fazem o mesmo. Depois fazemos queixas, entre nós, das "outras" mas ai de quem o faça ao pé de nós! Será uma ofensa maior que a morte e jamais perdoada. Mesmo que seja tudo verdade e nós até o saibamos... Mas das nossas ninguém pode falar. Porque nem sabemos muito bem onde uma acaba e a outra começa, e é de uma parte de nós que falam. Talvez até da melhor parte. E zangamo-nos, e amuamos, e calamos coisas que temos vontade de dizer mas não queremos magoar. Outras vezes magoamos para evitar perigos maiores. Mas também rimos muito e somos felizes juntas.
Se é de doidos? É. Mas não trocava isto por nada. Porque a confusão, o barulho, escondem a maior rede de segurança que conheço. É um amor incondicional. E uma canseira do caraças.