Ora, então, bom dia!
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Manarola foi a vila que me ficou no coração. Esta e Vernazza, em momentos diferentes.
Riomaggiore
Riomaggiore foi difícil fotografar e até desfrutar porque estava a ser invadida por uma excursão de turistas asiáticos. Como é a vila mais pequena, e sou um bocadinho claustrofóbica com multidões, foi aquela onde estivemos menos tempo mas não deixa de ser magnífica também. Estivemos um bocadinho na praia (sem areia, só pedregulhos), com um calor de ananases e nós com demasiada roupa, e depois voltámos a Monterosso para comer um gelato e despedirmo-nos em grande de Cinque Terre.
Depois disto, esperava-nos uma viagem de comboio de 2h30 para Florença.
Apesar de a Catrapuz ter cedido as fotos dela, eu optei por mostrar as fotos que tirei com o telemóvel, já que os ficheiros estão a demorar uma eternidade a fazer download.
Esta era a vista da janela do comboio... Apetecível, não?
Em cima, a escadaria do demo.
Esta era a vista lá de cima. Custou subir os degraus com a temperatura a rondar os 30o, e mais ainda porque não levávamos roupa fresca. As últimas previsões que vimos da metereologia rondavam os 20 e achámos que estaria fresco, afinal, era costa e final de setembro. Só que não. Enfim, subimos e ainda bem. A descida também custou mas já tínhamos descansado.
No segundo dia, e último que passámos em Cinque Terre antes de voltar a Florença, saímos cedinho para visitar as três vilas que faltavam. Deixámos as malas na estação e fomos diretamente a Corniglia: a única das vilas que não fica ao nível do mar, mas sim, a uns 65269587 kms metros e de onde se tem uma vista de perder a respiração. Mais que não seja de tanto subir. Mentira. É mesmo por ser maravilhosa.
Então e fotos? Ah, eu levei a máquina, levei. Andei a carregar com ela todo o santo dia maaaas deixei a bateria na mala. Na estação. De maneira que vou esperar que a Catrapuz publique aqui as fotos (lindas) que tirou.
Sabem aquela sensação de chegar ao fim de um dia de trabalho com a sensação de dever cumprido, fazer meia hora de caminho até casa, abrir a porta, sentir aquele cheirinho que só a nossa casa tem, sentar o rabo no sofá, ligar a televisão e respirar fundo como quem pensa "agora posso relaxar"? Sabem?
Pois, para mim foi destruída para sempre. Outro ser vivo neste planeta ousou encarar a minha tão arduamente conquistada paz de espírito e cuspir-lhe na cara. Foi com malícia premeditada que se atreveu a subir a parede da minha cozinha e foi com um espírito de Halloween ligeiramente antecipado que esta criatura do demo fez com que a minha querida prima com quem partilho o meu lar a minha casa de horrores soltasse um grito de arrepiar a espinha. Recordei de imediato os meus nostálgicos tempos passados na Picheleira onde fui tão bem recebida à chegada por uma praga desta espécie e heroicamente dirigi-me à cozinha de peito feito, pronta para limpar o sebo ao bicho.
Mas nada na minha vida me preparou para o que iria encontrar. Ao abrir a porta, vi de imediato a minha prima de vassoura em punho, qual Hércules de Moscavide, e na minha cabeça soltei um riso de escárnio. "Pff, gajas..." Mas eis senão quando me viro e me deparo com um verdadeiro Adamastor do mundo animal. Nunca tal tinha visto, e espero para bem da minha saúde cardíaca, não mais voltar a ver. Este repugnante espécime que apenas posso avaliar como sendo uma Baratis Gigantonis era do tamanho de uma bola de futebol, senhores! Pronto, andebol. Ténis e não se fala mais nisso!
Naquele interregno de indecisão em que esta dupla destemida tentava encontrar uma solução que não envolvesse uma aproximação ao inimigo, toca a campainha de sobressalto: era o senhor da Uber Eats que trazia o jantar e, quissá, a salvação. Despida de pudores, abro a porta pronta para pedir a este digníssimo estranho que me faça o favor de matar a p*** da barata o insecto na cozinha, mas quem encontro é o ser humano de sexo masculino (ou feminino) mais coninhas que já vi na minha vida. A sério, não exagero, ele tinha este aspecto:
Pressionadas pelo desespero, e pelo facto de o jantar estar a arrefecer, percebemos que se tinham esgotado todas as outras alternativas. Nada mais havia a fazer a não ser fixar uma pá à ponta da esfregona com fita-cola, usar a vassoura para auxiliar a criatura a subir para a pá, abrir a janela e rezar para que não houvesse nenhum traseunte lá em baixo que estivesse prestes a ser supreendido com uma barata na cabeça.
Foi traumático. Mas sobrevivemos e hoje somos mais fortes.
Este ano tínhamos decidido ir a Florença mas, já depois de vôo comprado, começámos a falar em ir a Cinqueterre também. Embora fosse longe do aeroporto, ficava a cerca de 3 horas de comboio e pareceu-nos uma boa opção. E foi. Inicialmente, considerámos alugar um carro mas em boa hora não o fizemos: os italianos são completamente doidos a conduzir, e vivem com a mão na buzina.
À saída do aeroporto procurámos o autocarro para Prato, onde apanhámos o comboio para La Spezia. Chagámos por volta das 16h, tempo suficiente para comprar o bilhete para o comboio que faz as Cinqueterre e ir ver duas das cinco vilas.
Monterosso al Mare
Com o sol a ficar por trás da montanha, fugimos desta vila e fomos para Vernazza aproveitar o pôr do sol. Foi o pôr do sol mais espetacular de que tenho memória.
Vernazza
1456485 fotos depois, voltámos para La Spezia, onde jantámos e dormimos. A decisão de dormirmos ao lado do restaurante foi a melhor decisão de sempre (sobrinha mais velha sempre a marcar pontos) e antes das 22h já estávamos na cama, tal era o cansaço.
Ou a mesma vida mas com novas rotinas.
A decisão de ter um cão alterou, de várias formas, a minha rotina. Durante um tempo vou andar de balde e esfregona na mão, a espalhar jornal em tudo o que é chão (para ele errar e fazer ao lado), a dormir poucas horas porque ele também dorme poucas horas (quando não troca os dias pelas noites, como um bebé) e daqui a um tempo passa a ser vários passeios por dia, para fazer necessidades e gastar energia, de forma a não roer a casa toda. Passei a ir almoçar a casa todos os dias, em 5 minutos, porque entre o percurso e o lava-chão, não sobra muito tempo. Também já cedi em algumas regras, uma delas a de dormir na cozinha. Para bem de ambos, a cama passou para o corredor, à porta do meu quarto, de forma a que ele me veja e sossegue. Mantive a regra de não entrar no quarto, e so far, so good.
Este bicharoco mai lindo (e medroso e maluco) veio parar cá a casa e, mais uma vez, aquilo que sempre disse não se escreveu: "Cão num apartamento nem pensar!"; "Hei-de ter um Labrador preto e chamar-lhe Cascão!"; "Não gosto de cães de raças pequenas!"
E é isto. Este é o Jack e esta foi a primeira noite em casa. Dormimos 4 horas. Esteve lindamente enquanto estivemos por perto, até dormia na mantinha, mas assim que pressentia alguém mexer-se acordava e ficava em sentido. Quando o deitei e apaguei a luz, embora tivesse deixado os estores levantados, começou o chinfrim. Chorou, ganiu, ladrou (tentou, vá). Ignorei. Deitei-me e custou-me horrores mas mantive-me firme e não fui lá. Durante 20 minutos não se calou e ia intercalando a intensidade do choro, até que adormeceu. Só que eu não. Passava bastante da uma da manhã quando consegui adormecer. Às 5h17 começou tudo de novo. O bicharoco já tinha descansado e estava fresco que nem uma alface. Não aguentei muito tempo sem lá ir, por pena também dos meus vizinhos. Não lhe dei confiança até se acalmar e deixei-me ficar lá, a fazer companhia e a ver se alguém conseguia dormir durante uns 10 minutos. Voltei para cama. Choro e mais choro. Não cedi. Mais choro. O meu filho cedeu. Fui ralhar com o meu filho. E nunca mais ninguém dormiu.
Espero que hoje corra melhor, e que não me destrua a casa durante a manhã.