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Rir e Comer Bolachas

Das raízes

Ontem pedi à minha mãe para me emprestar as fotos mais antigas que ela tem para digitalizar antes que se percam. Não cheguei a conhecer algumas pessoas, ou não tenho memórias disso, outras vou esquecendo as feições ou os nomes, e peço-lhe sempre para me dizer quem eram, como eram, histórias que ela se lembra. Faço perguntas como as crianças, em catadupa, sempre à espera que ela se farte e me pergunte por que raio ando a escarafunchar nas memórias dela, mas ela não se aborrece e vai contando - este é fulano, lembro-me como se fosse ontem; esta sempre foi assim, de saia até aos pés, muito direitinha - e eu vou-me perdendo entre pessoas e parentescos. É curioso pensar que eu sou o resultado da junção de tantas pessoas.

Entrelaçados

Há dias deu-me uma travadinha daquelas que não se conseguem travar e deu-me para limpar o meu roupeiro todo. A coisa ocupa uma parede inteira, tanto em largura como comprimento e encontrei de tudo, portanto, meti 5 sacos de roupa num contentor para o efeito e nem sequer foi desta que me desfiz de roupas de casa e cozinha que tenho em demasia. Mas adiante. Encontrei umas fotos antigas e mostrei ao Dinis. Ele teria uns dois anos- fofo que ele só- e eu estou com o pai dele. Todos sorridentes, como se a felicidade fosse uma coisa certa naquela altura. A foto sumiu-se para o quarto dele e fui encontrá-la mais tarde numa moldura, coisa que nunca me ocorreu fazer, por vários motivos, sendo o principal ser uma situação do passado. Só que não é.

O meu filho tem os dois pais ainda. Somos nós as raízes dele, independentemente do passado, do momento atual ou do futuro. É dali que ele vem e eu devo-lhe isso. Por não nos darmos particularmente bem (embora estejamos muitooo melhor), raramente falo no pai, ou na relação que tivemos, ou coisas que vivemos e é um disparate tão grande. Ele não teve o que eu tive: ele não tem memórias desse tempo. Então decidi: vou fazer um exercício de memória e contar-lhe coisas de vez em quando, quando se proporcionar ou quando ele quiser saber. Às vezes, esqueço-me que, sendo mãe, a minha vida não é só minha, e o pai dele é mais do que o meu ex-marido, e faz parte do presente dele.

Sou uma pinga-amor

Esbanjo amor pelas minhas pessoas. Beijo, abraço, faço elogios, preciso de as ouvir, de as tocar, de saber como estão, o que fizeram hoje ou na semana passada. Fico feliz quando estão felizes e dói em mim quando alguma coisa as aflige. Gosto de ter tempo para um café ou até para um silêncio partilhado. Às vezes penso que é por isto que tenho pouca sorte nas relações amorosas - tenho muito amor espalhado nas outras relações.

 

Um serão... diferente.

Ontem conversei com o meu teenager. Falámos, rimos, enfim, disfrutámos da companhia um do outro. Sempre que falta a luz por umas horas e as baterias gastam-se, sem hipóteses de recarregar, isto acontece. (É maravilhoso saber que existe um botão que faz isto acontecer, caso me apeteça.)

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Gratidão

Fala-se muito em agradecer, ser grato, estar grato. Quando estamos felizes ser grato é fácil. Todas as noites agradeço ter uma cama quentinha e roupa macia onde me deitar, abrigada do frio da rua, em sossego na minha casa e num país tranquilo. Será isso ser grato? Parece-me muito fácil. Fácil até de esquecer rapidamente.

Talvez o desafio seja agradecer também tudo aquilo que não gosto, que me faz ou fez sofrer porque é isso que me faz crescer, mudar o rumo, ajustar as velas. Talvez o desafio seja agradecer sempre, independentemente do julgamento que fazemos das coisas. 

Dei-me conta que algumas das melhores coisas que vivi e aprendi aconteceram apenas porque um dos piores episódios da minha vida também aconteceu, e embora reconheça esse facto, ainda me é muito difícil estar grata. Talvez seja isso a maturidade: aceitar tudo, sem julgamentos e com gratidão. Um caminho a caminhar, ainda.

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Da falta de brio

Logo no início da manhã de hoje tive que falar de forma mais áspera com alguém que trabalha em outra empresa mas que interfere diretamente com o meu trabalho. Não gosto de o fazer mas também não gosto de falta de brio no que se faz. Faz-se porque é assim, porque mandam, porque são as normas e pronto, mesmo que não esteja certo, não faz mal porque nada disto é nosso... Depois de uma troca acesa de argumentos a situação resolveu-se, o que prova que não era dificil, ninguém foi despedido, não houve nenhuma catástrofe, era só mesmo má vontade ou, pior ainda, falta de vontade de fazer melhor. É triste.

Já depois de me ter esquecido disto, vou ao supermercado e sou atendida por uma senhora de mal com a vida - mal falava, sem sorrir e a manusear as coisas como quem as quer atirar para bem longe, ou à cabeça de alguém. O meu instinto foi pensar que ganha mal, está ali contrariada, provavelmente, foi um mau dia. Coitada. Só que não. Eu não trato ninguém mal só porque o dia não está a correr ao meu gosto. Se for ao hospital também espero que o médico não se deixe influenciar pelos seus problemas, ou troque a minha ficha porque se apaixonou e está distraído. Espero que tenha brio, e se distancie da sua vida pessoal e vontade.

Falta brio, senhores. Falta gosto no que se faz. Falta pensar que se está a prestar um serviço a alguém. A trabalhar para os outros. E, não estando satisfeitos com a vida que levam, existe sempre escolha de uma nova.

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