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Rir e Comer Bolachas

Prato do dia

Dizer asneiras. Foi tudo o que me apeteceu fazer durante o dia, e fi-lo mentalmente. Logo que saí da casa o frio fazia gelar até as unhas dos pés, não tive tempo de beber meia de leite quentinha, a secretária estava atafulhada de papéis e papelinhos, e recadinhos e outros inhos que nem me apetece pensar sequer. Foi-se passando o dia e nada de humor a melhorar. Nem com sopas e chás, ou cafés. Foi daqueles dias em que nem o trabalho rendia - não parei mas não fiz nada de jeito.

Por mim, ia já para a caminha e ficávamos conversados mas parece que ainda é cedo. Antes disso, ainda tenho que fazer um discurso bonito a um adolescente que já se acha muito crescido e esperto, cheio de si e com muitas certezas na vida, uma das quais que a senhora sua mãe não percebe nada de modernidades e jovens normais, e uma hora no ginásio. E hoje até prefiro a hora no ginásio, a fazer agachamentos como se o mundo dependesse disso. Arre! Inspira, expira.

É só um dia parvo e amanhã o dia de hoje até parece parvoíce.

Especialmente, se ganhar o euromilhões.

 

 

 

Repetir até aprender

Aprendemos pela repetição. Aprendemos a viver em sociedade, aprendemos a expressar (ou não) emoções, aprendemos a comunicar mas também aprendemos as verdades que muitas vezes não são as nossas verdades, isto é, de tanto ouvir uma opinião, aprendemos uma verdade que pode não ser a nossa. Se eu ouvir vezes suficientes que não sou uma pessoa resiliente, vou aceitar que não o sou, embora até possa ser. Vou partir dessa premissa como sendo verdade, e vou vivê-la, possivelmente, até torná-la verdade.

Também pela repetição, eu vou ensinar ao meu filho adolescente que a mãe desiste facilmente das coisas, e mesmo que discurse de forma muito convincente acerca da resiliência e persistência, ele vai aprender o que, na repeteição, tem mais impacto: o exemplo.

 

 

Mar adentro

Andava eu a saltitar de canal em canal quando parei na 2 e vi que estava a dar um dos meus filmes favoritos: Mar adentro. Este filme toca-me, remexe-me as entranhas e faz-me pensar na morte, mas sobretudo, faz-me pensar na vida sem condições para ser vivida. Chorei como se não houvesse amanhã e fui deitar-me com aquela sensação horrível de que pode acontecer a qualquer um isto de a vida nos tirar a dignidade, de nos remeter à nossa pequenez, de nos provar como somos frágeis e de como tomamos tudo como garantido. Queixamo-nos de merdinhas e vivemos como se fossemos imortais e intocáveis. Por outro lado, talvez seja esta a melhor forma de viver, ou seja, sem pensar em como caminhamos para o fim, e que a qualquer momento podemos ficar privados de saúde, de liberdade. 

É bom que me lembre de vez em quando que a vida não me pertence, mas aquilo que acontece nela é minha responsabilidade. Culpamos tudo, desde o tempo à senhora da mercearia que foi mal educada, pelo nosso queixume habitual, pela nossa infelicidade, pelas injustiças da vida, mas poucas são as vezes que assumimos a nossa responsabilidade nas escolhas e na falta delas, na forma como (sobre)vivemos, porque é muito mais fácil andar à deriva e ver o que "isto" dá do que agarrar o touro pelos cornos e irmos à luta, de fazer com que todos os dias contem.

 

Do tempo necessário

Ontem andava eu às voltas com os agachamentos e ouvi "faz isso mais devagar", "não faças isso com pressa", tentava controlar a velocidade mas cedia sempre à vantagem que os movimentos mais rápidos dão. O balanço ajuda o movimento e evita que façamos tanta força, mas a questão é precisamente essa, é necessário fazer força, caso contrário, é só perda de tempo. Muitas vezes, na vida também sou assim, chica-esperta. Aproveito o balanço, não dou o devido tempo e empenho, e aquilo que parece uma vantagem, na realidade, é uma desvantagem - não ganhei nada com isso. Nem sequer fiquei despachada mais cedo, tenho sempre que repetir o processo se quiser ver resultados. Devagar.

Quais filmes, qual quê, a realidade é sempre melhor

Ainda que sejamos adultos, que já tenhamos os nossos padrões e objetivos definidos, acho que precisamos sempre de modelos a seguir, seja enquanto mulher, mãe ou trabalhadora. Eu gosto particularmente de modelos de casais. Gosto, pronto. Cada doido com a sua mania, esta é a minha. Estou desolada por deixar de acompanhar o casal Obama. Acho que fizeram um excelente trabalho, cada um no seu papel, e os sucessores não vão estar à altura mas, políticas aparte, admiro-os ainda mais como casal.

Não sou ingénua ao ponto de acreditar que têm uma relação perfeita, porque não existem, mas acredito na cumplicidade que se sente em algumas imagens, ou que se percebe no discurso de cada um, na forma como falam um do outro. Acho profundamente bonito que algumas pessoas consigam amar-se uma vida toda, e serem felizes juntas, apesar de todas as dificuldades que toda uma vida acarreta, e sem o glamour que o dia-a-dia leva. Para mim, o Obamacare é aquilo. Ainda por cima, são bonitos.

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Não basta estar frio...

Ontem à noite estava um frio de rachar dentro de casa. Meti o aquecedor a bombar, tomei um banho escaldante, vesti o meu pijaminha novo e lavado, fervi água e meti no saco de água quente (eu sei, sexy que eu só) e afofei a cama. Enfiei-me lá dentro com um livro ao lado, que continuou lá ao lado porque não lhe toquei, e lembro-me de ter pensado que tenho uma rica vida. É certo que já penei um bocadinho até chegar aqui mas posso dizer que conquistei qualidade de vida e que a sei apreciar. Depois apaguei.

Esta manhã acordei com frio, muito, muito frio. Húmida até. Molhada, vá. Mas que raio? Ainda com os olhos fechados e a lutar contra o sono, em posição fetal e a tiritar de frio, mexi os pés e os lençóis estavam molhados. F%&$ry%!!! É o segundo saco de água quente que rebenta... 

Voltei.

Andava há tempos a pensar em voltar ao blog, ou até a fazer um novo, mas acabava por protelar sempre mais um bocadinho. Hoje foi o dia. E decidi não fazer outro mas continuar com este, afinal, não sou outra pessoa, sou a mesma. 

Deixei de escrever aqui para não olhar para dentro. Escrever foi sempre uma forma de alinhar os pensamentos, de pensar nas coisas, de desabafar nas entrelinhas, um exercício de perspetiva e, durante um tempo, não quis fazer nada disso. Estive a fazer o meu luto, um tempo de recolha, em que se sofre sozinho e não apetece partilhar com ninguém. Não foi apenas uma relação que acabou, foi uma enorme parte de mim, que arrasou as minhas crenças e os meus valores, em suma, que acabou comigo. Como tal, a última coisa coisa que me apetecia era vir para aqui lembrar-me disso, lamber as feridas e ter pena de mim. Oh, meu Deus, como tive pena de mim durante este tempo todo. :)

Agora volto. O que se tira do confronto com os nossos maiores medos é a certeza de que somos maiores. Sempre.