Não me sai da cabeça a conversa da hora de almoço, e o comentário que se lhe seguiu, por parte da minha sobrinha. Dizia eu de minha opinião acerca de um assunto melindroso, e fui um pouco cruel, sim, reconheço, mas era a minha opinião sem filtros, sem falsos moralismos que não eram, de facto, sentidos quando vejo a expressão dela. E parei de falar.
Não estou em conflito com o que disse porque continuo a pensar e sentir de igual forma mas não me sai da cabeça o ar desapontado da miúda (que cresceu e é adulta). Acho até que, se há um dia em que deixamos de ser super-heróis detentores de toda a sabedoria do mundo e passamos a ser comuns mortais aos olhos deles (deles= jovens estagiários em idade adulta) hoje foi o meu. Sim, eu também já fui assim cheia de valores e poesia, de certezas absolutas e dona da verdade, depois embruteci, que é como quem diz, cresci ou vivi. Porque é impossível passar pela vida, acordar e adormecer todos os dias, sem endurecer a carapaça, sem criar uma desconfiança que nem sempre é justa, sem cair na tentação de julgar o próximo, e de alvitrar sobre o que é o certo na vida dos outros.
Não me orgulho nada de ser assim mas a tendência é piorar, sou nova ainda mas já vi muita coisa. Não sei tudo, que não sei, mas aquilo que sei já não vou desaprender. Pelo menos, não imediatamente.