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Rir e Comer Bolachas

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Há quatro anos perdi o chão, o meu tino. Não totalmente mas o suficiente para não querer sair de casa, chorar compulsivamente, ter medo de conduzir, de andar sozinha na rua, de ir ao supermercado. Senti que tinha enlouquecido. Embora a lucidez fosse suficiente para perceber o ridículo daquilo tudo, o medo paralisava-me e levava-me ao desespero. Não era medo, era pânico, mas de quê ao certo? Basicamente, de tudo.

Como acreditei que pessoas "normais" não têm depressões, isso era uma invenção de quem não tinha que fazer ao tempo livre e ao dinheiro, deixei a situação arrastar-se até o Tico e o Teco irem de férias prolongadas. Seguiu-se baixa, dias e dias a dormir sem ter noção das horas e/ou dias da semana, a fase intermédia entre o totalmente drogada e o estado mais parecido comigo possível. Dormia muito. Sentia-me muito culpada porque sempre senti que não tinha problemas que justificassem aqueles achaques, porque há pessoas com problemas gravíssimos e aguentam, e eu tinha e tenho um suporte familiar muito grande, a minha rede de segurança, e como tal não deveria sentir-me assim. Era frágil. Tonta. E tinha um filho que dependia de mim e não podia fraquejar, e fraquejei.

Vieram dias melhores, médicos diferentes, uma experiência falhada com uma psicóloga, voltei a trabalhar meses depois (um ou dois, não me lembro) e a vida foi-se levando, uns dias melhor, outros pior, tal como como a vida sem depressão ou sem medicamentos. Hoje tive ordem para parar a medicação. Tenho vindo a reduzir gradualmente e hoje foi o dia da libertação.

Ainda é cedo para deitar foguetes mas quer-me parecer que é mais uma etapa que ficou para trás.

Done.

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