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Rir e Comer Bolachas

Só a mim acontece destas coisas?

No domingo à noite, por volta da hora de jantar, o Dinis recebe uma mensagem de voz, sem identificação, com ameaças veladas. Vim a saber depois que andava há dias a receber chamadas anónimas e desligavam quando ele atendia, tal como mensagens no facebook, de alguém com perfis falsos e cujo teor era igualmente ameaçador.

Eu, como mãe e pessoa dada á imaginação fértil, entrei em pânico. A pessoa que deixou a mensagem tinha voz madura, sexo masculino, talvez mais de 50 anos, com sotaque do norte, e dizia para "não se meter com as miúdas senão tinha problemas, pá".  No facebook, faziam passar-se por um tio de alguém que andaria a ser assediado pelo meu filho. 

Depois de perguntar 36998543524 vezes se havia mais alguma que eu devesse saber, qualquer coisa que ele estivesse com medo de me contar, alguma confusão em que se tivesse metido, entrei em pânico. Aquilo não era uma coisa simples, de miúdos com hormonas aos pulos, aquilo metia adultos, provavelmente descompensados, e o miúdo estava mesmo assustado. 

Mal tinha eu assimilado toda esta informação, o "número desconhecido" volta a ligar. Eu, como pessoa paciente e mãe muito calma, atendo, quase a gritar, a perguntar quem fala e o que quer do meu filho. O homem responde vagamente, diz ser amigo e nunca diz o nome, que tem assuntos para tratar com o Dinis (sim, tratou-o pelo nome e fez cair por terra a possibilidade de ser engano) e eu mando-o meter-se com alguém da idade dele. Ameaço com a GNR e digo que, apesar de eu não conseguir identificar o remetente da chamada, as autoridades conseguem e caso se repetisse, ia avançar com uma queixa.

Mais ou menos uma hora depois, o número desconhecido liga de novo. Deixo- o atender, na expectativa de ouvir o que o homem quer dizer, de tentar perceber qual a razão das ameaças. O homem começa a dizer para ele deixar "a miúda", que é menor, e que, caso não o faça, arranja problemas. O miúdo defende-se, diz que não anda com nenhuma miúda, que não sabe do que ele está a falar, que deve ser engano e o homem desliga.

Pânico. Combinei logo com a minha irmã para ir buscá-lo à escola, quem levava e quem trazia, e a que horas porque não o queria a andar a pé, sozinho, como habitualmente. Até isto estar esclarecido, com queixa na GNR e tudo, andávamos a olhar por cima do ombro. Ontem de manhã, mais uma mensagem de voz e várias chamadas não atendidas de número identificado mas desconhecido para nós.A mensagem de voz era uma coisa estranhíssima, sem nexo e que falava em nomes igualmente desconhecidos, para ter cuidado e tal, e obrigado. WTF?? 

Resolvi ligar e perguntar, com ar cândido, quem era aquela pessoa e o que queria com o meu filho, com 12 anos, aterrorizado com tudo isto, de forma a que ele dissesse, finalmente, o que queria. Lá se explicou. Pois que, dias antes, um grupo de pessoas foi contactado, via facebook possivelmente, e aliciado com uma quantia para fazerem umas chamadas ameaçadoras a uma pessoa que tinha violado e espancado uma menor de 14 anos. Esta pessoa fazia passar-se por alguém da PJ e oferecia um valor pago em dinheiro, pessoalmente, na morada destas pessoas. Deu o nome e número de telemóvel do meu filho e armou-se este circo. Atrás de 1500 euros, e a fazer justiça popular, montou-se todo um esquema que só se desfez porque, depois de eu ter dito para se meter com alguém da idade dele, levantou-se a suspeita de que alguma coisa não estaria correta... Quem fez a chamada foi à procura do tal polícia e, surpresa, já não havia ninguém com aquele perfil ou aquele nome. Averiguou mais um pouco e percebeu que estava a ser endrominado. Quando eu liguei já ele tinha percebido isto mas diz que a informação começou cedo a ser espalhada. Resta dizer que o senhor é do Porto, os amigos do grupo também, e eu não tenho qualquer ligação com pessoas do norte do país.

Ainda não sei quem esteve por trás disto, com que intenção e duvido que vá descobrir. Espero que tenha sido uma brincadeira de mau gosto. A conta do facebook foi cancelada, o número dele vai ser alterado e foi um susto do caraças! Para ele também, felizmente, e serviu para lhe mostrar que resisto a modernices por causa destas coisas... A internet é uma coisa fantástica, se usada com cuidado, palavra desconhecida por adolescentes cheios de razão e, acham eles, astúcia.

O meu coração ficou do tamanho de uma ervilha e só agora consegui falar sobre o assunto.

Também lhe podemos chamar "Cá se fazem, cá se pagam"

Aquele lugar-comum que ouvimos dos filhos crescerem demasiado depressa é verdade. Um dia olhamos para o lado e eles já estão com buço, com mau feitio, a escrever com erros ortográficos e a falar um dialeto estranho (e parvinho) e frases a acabar em ya. Oh que caraças! Eu não sei brincar a isto e tenho tão pouca paciência para achaques de pré-adolescência. A sério. É difícil olhar para a minha criatura de 12 anos e tentar lembrar-me que isto passa, que é uma fase, que estes tiques não são definitivos (e esperemos que os gostos também não). Por outro lado, o facto de andar já de olho nas miúdas não me parece que vá passar, acho até que a tendência é piorar... Já que é assim, não se pode fazer tudo às escondidas dos pais, como era antigamente? u agradecia que fosse. Sou uma grande defensora da ignorância, não preciso de saber que o puto já manda sms a dizer "Amo-te muito". Não sabendo, não preciso de fazer e/ou dizer nada, assim, estou feita. Digo-lhe o quê?

Disse-lhe para ter juízo, que não é adulto, que tem apenas 12 anos e tem que se comportar como tal. No fundo, mais devagar com o andor que o santo é de barro. E quase que aposto que ele ouviu "bla, bla, bla, bla, até amanhã"

Muita cautela e canja de galinha

Há dias, em conversa com a minha irmã, descobri que padecemos de um mesmo mal. Deve ser algum gene doido que temos embutido, que dispara vários alarmes quando estamos temos que decidir se deixamos ou não os filhos irem a algum lado.

Há muitos anos houve um passeio organizado pela minha escola e houve uma mãe que não deixou a filha ir, por medo de "acontecer alguma coisa". A filha não foi e , a caminho da escola, nesse mesmo dia, teve um acidente macabro e morreu. Não se falava de outra coisa. E nunca mais consegui esquecer isto.

Quando tenho que decidir se deixo ou não deixo ir, acabo sempre por deixar. Ainda há poucos dias decidi que abdico de uma semana de férias com o meu filho porque o pai tem a mesma semana e queriam estar um com o outro. Não tinha vontade nenhuma, porque o pai decidiu em cima da hora, porque é tempo de qualidade que perco, por vários motivos mas decidi deixar, porque ambos queriam e porque me lembrei desta história. Como ele está a crescer esta história tem-se repetido imensas vezes e eu dou comigo a pensar se não será demasiada cautela (e canja de galinha)...

Lembrete

Quando os putos não atendem o telemóvel, várias vezes seguidas, pode ser sinal que o meteram no silêncio. Porque são criaturas que não gostam de ser incomodadadas por aquele som irritante dos toques que escolhem. (Principalmente por pais à beira de um ataque de nervos, que saem do trabalho para ir a casa verificarem que está tudo bem, e que depois de os verem bem de saúde ficam com vontade de lhes partir as fuças! De-va-ga-ri-nho)

E como se faz isto na vida real e todos os dias?

O meu filho cresce todos os dias e eu nem sempre me lembro disto. E ainda bem que cresce todos os dias porque, desta forma, eu tenho todos os dias um dia para me habituar a novas formas de pensar e novas formas de resolver problemas. É que isto de moldar um ser humano é coisa para dar cabo da cabeça de qualquer um, acho eu.  Pior ainda quando eu ainda ando na tentativa-erro comigo mesma...

 

Há umas semanas atrás, e depois de uns dias particularmente difíceis, o meu filho disse-me que gostava de ir viver com o pai. Pânico. Mágoa. Revolta. Tudo em fracções de segundo. Depois, recompus-me e disse-lhe "Não, não vais. A adulta ou eu e eu é que decido o que é bom para ti", e foi o melhor que fiz. Ele tem 11 anos e estava a chamar a atenção, não se colocam aqui questões maiores - era apenas uma chamada de atenção. E foi-lhe possível porque tem o pai e a mãe separados, se não fosse o caso teria recorrido a outra estratégia. A questão é que eu chateio muito. Exijo muito. Ralho muito. Às vezes, até grito, imagine-se. E Sua Excelência não queria ser incomodado, queria viver tranquilamente. No fundo, o que ele estava a tentar dizer-me era que existem outras formas de lhe dizer as coisas, e nem sempre é tudo tão importante, e grave, e sério, como eu penso. E estava certíssimo. Mas depois teve de ouvir aquilo que eu espero, muito sinceramente, que ele retenha como ensinamento - não se desiste das pessoas de quem gostamos apenas porque dá trabalho. Não se desiste de pessoas, ou situações mais penosas só porque nos custa, se o fruto daquele sacrifício valer a pena. Chegámos a um compromisso: eu deixo de fazer tudo a "ferro e fogo" e ele respeita o facto de eu ser adulta e saber mais do que ele, e principalmente, porque (essa justificação inabalável) sou a mãe. E a mãe é que manda.

 

Mas a verdade é que esta cena não me sai da cabeça. É impressão minha ou os miúdos não fazem ideia do que é um sacrifício? Que as coisas que valem a pena dão trabalho mas têm qe ser feitas? Sou só eu a achar ou eles crescem a pensar que as pessoas são descartáveis e substituíveis? E que as relações não dão trabalho? Fomos nós, pais, que ensinámos isso? Ou é muito cedo para pensar tão "à frente" estou, de facto, a fazer filmes?

 

Ser pai/mãe é uma responsabilidade do caraças! E se eu faço tudo ao contrário e crio um monstrinho? Ou uma pessoa infeliz? Ou uma pessoa que não sabe lidar com dificuldades?

Ai. Era o Manual de Instruções, fáxavore.

"Quando fores mãe hás-de perceber"

A minha admiração pela minha mãe cresce proporcionalmente aos desafios (chamo-lhe assim para ver se me convenço) que a educação do Dinis me tem dado. Desde que ele nasceu, minto, desde que fiquei grávida que sinto não estar preparada para esta tarefa, e se é verdade que ele nasceu e cresceu saudável até agora, também é verdade que eu nem sei bem como, porque a maior parte das vezes sinto-me assoberbada com tudo.

Quando ele era bebé tinha medo de ser negligente, de estar a passar-se alguma coisa e eu não saber, não detetar, de tal forma que ia ao hospital  uns dias antes de ele adoecer, ou seja, ainda estava "a chocar" e já eu ia para as urgências da pediatria... Enfim. Quando o instinto maternal foi distribuído eu devia estar ausente.

O certo é que, aos solavancos, com instinto ou sem e sempre a desejar um manual de instruções, eu sou a mãe. Sou a educadora. O meu papel é ensiná-lo a ser uma boa pessoa, um ser humano capaz e honesto, alguém feliz. E isto é muito difícil porque para isto acontecer é necessário fazer o papel de vilão, é necessário contrariar vontades e desejos, é preciso indicar o caminho sob a forma de proibição de outros, e é um papel tão, mas tão ingrato, é necessário dizer não e manter, é preciso vê-los chorar e sentirem injustiçados e os mais infelizes que povoaram o planeta. 

A minha mãe fez isto tudo e sentiu isto tudo e eu não dei por nada. Ouviu respostas tortas, mentiras, levou com amuos, desgostou de alguns amigos, viu escolhas erradas e eu não faço a menor ideia como conseguiu. Vezes três. É dose. Tão cedo não a chamo chata.:)

Confesso

Tenho uma coisa para contar. Há dias que ando a ganhar coragem para vir aqui meter isto por escrito. Não que seja grave, que não é, quero dizer, até pode ser se analisar com profundidade mas ainda não cheguei aí. É chato. Nem sequer sabia que era possível, estava convencida que isto não acontecia e pronto. Ok, então cá vai: o meu rico filho, essa jóia de moço, teve uma negativa. E vocês pensam que é normal, que nem toda a gente pode ser muito inteligente, que pode subir a nota nos períodos seguintes, dificuldade todos têm, e por aí fora. Pois, não é bem isso. O meu filho teve negativa a Educação Moral e Religiosa!

A sério? Há uma classificação negativa para atribuir nesta disciplina? Ahahahahahah. 'Pera lá! Mas isto não tem graça nenhuma. Uma negativa quer dizer o quê, que ando a criar um delinquente? Um ser insensível? Um ateu?

Admito. Pensei que fosse engano. Não é.

Na quinta-feira lá vou eu à reunião, às 8 da manhã (estes professores estão doidos?? a esta hora??) ouvir as razões para esta nota. As outras são satisfatórias.

 

 

 

Quando não tem, inventa?

O destralhamento da casa levou a uma reflexão acerca da minha pessoa e do meu funcionamento, logo, também ao da forma como vivo e aquilo que transmito aos outros, principalmente ao meu filho. Tenho tentado educar-me, disciplinar-me, para que antes de me ouvir possa ver o que faço, seguir-me o exemplo. Se por um lado não me facilito no deixa-andar ou amanhã-penso-nisto-e-resolvo, por outro também percebo que sou humana e a perfeição não é possível, e estou mais tolerante.

O mesmo não se pode dizer do miúdo, que herdou o gene, e acha que a idade parva está agora a chegar e critica tudo. TUDO. Ele critica os anúncios na TV, ele critica um filme, ele critica tudo o que pode. Aquilo que não pode criticar verbalmente, critica por omissão de palavras e um olhar de "Dai-me paciência que eles não sabem o que fazem".

Tenho ignorado, tenho dito que devemos ser mais tolerantes mas isto começa a preocupar-me, as "fases" são temporárias e isto dura há bastante tempo. Dou por mim a pensar, pode uma criança de 10 anos estar frustrada? Sentir-se infeliz com a vida que leva? Depois penso melhor e vejo que tem tudo, ou nem tanto assim, mas tem mais que suficiente para ser feliz, principalmente amor e uma família enorme que o adora. Independentemente dos tempos em que se vive, isso é suficiente, não é?

 

Os pais, esses seres perfeitos que tudo sabem e tudo viram

Os pais mentem, são uns aldrabões descarados e mal-amanhados que vão inventando à medida da necessidade e da imaginação. Com o passar dos anos a tarefa complica-se, é só o que vos digo.

Começa quando eles são pequenos e com coisas inocentes como "a mãe já vem, ficas aqui só um bocadinho" e lá ficavam 8 horas diárias (a brincar) à espera que a mãe chegasse para os levar para casa novamente, gradualmente a coisa toma proporções complicadas de gerir - é mentir para educar. Eu ERA a favor da honestidade até ao dia das perguntas pós educação sexual, e quando já contamos dois casamentos, não há honestidade que nos valha. Depois deste dia, as perguntas sucedem-se, os temas mudam mas as mentiras... não. Claro que não faltava às aulas, claro que não mentia descaradamente aos meus pais, claro que estudava. Refilar com a minha mãe? Nunca na vida. Fumar na adolescência? Deixar tudo desarrumado? Esquecer-me de tudo? Deixar tudo para o último minuto? Na. Palavra de mãe.

"Casa de pais, escola de filhos"

O meu filho diz inúmeras vezes "não faz sentido", di-lo em todas as circunstâncias e sob qualquer pretexto. Comecei a ficar atenta para perceber a razão, afinal, ainda não chegou à fase de estar contra o mundo, só porque sim. Dei conta que, em vez de ler, procura erros ortográficos nos livros. Faz perguntas sobre o que não percebe mas não aceita o que lhe é explicado, "não faz sentido". Critica o Benfica do seu coração e opina que os jogadores são isto e quilo, têm a mania, etc. Os colegas do futebol não são aplicados, os colegas da escola não são educados (nem higiénicos). E outras, muitas outras. 

A crítica é tão constante que desenvolvi uma aversão à expressão "não faz sentido", é quase impossível não me sobressaltar quando a ouço, e foi aqui que me surpreendi: digo-a vezes sem conta! O meu filho é crítico porque assim o ensino a ser, não que lhe diga para agir dessa forma mas porque é o que aprende em casa. Que pena... Eu achava-me bem mais tolerante e gostava que ele aprendesse a sê-lo comigo. 

Mais uma coisa a rectificar.