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Rir e Comer Bolachas

Alguém me explica o que é um beijinho grande?

É beijinho ou é grande? Se é grande, não pode ser beijinho. Como é que distingo um beijinho e um beijinho um bocadinho maior mas que, mesmo assim, não chega a beijo?

Já agora, quando é que é aceitável despedirmo-nos com beijinho, (telefonicamente falando) no campo profissional? E se é aceitável, funciona para ambos os sexos? E um aperto de mão a uma mulher, é aceitável? Já me aconteceu estenderem-me a mão para apertar e achei constrangedor.

Nunca percebi se sou profissional ou  um cubo de gelo.

Muita cautela e canja de galinha

Há dias, em conversa com a minha irmã, descobri que padecemos de um mesmo mal. Deve ser algum gene doido que temos embutido, que dispara vários alarmes quando estamos temos que decidir se deixamos ou não os filhos irem a algum lado.

Há muitos anos houve um passeio organizado pela minha escola e houve uma mãe que não deixou a filha ir, por medo de "acontecer alguma coisa". A filha não foi e , a caminho da escola, nesse mesmo dia, teve um acidente macabro e morreu. Não se falava de outra coisa. E nunca mais consegui esquecer isto.

Quando tenho que decidir se deixo ou não deixo ir, acabo sempre por deixar. Ainda há poucos dias decidi que abdico de uma semana de férias com o meu filho porque o pai tem a mesma semana e queriam estar um com o outro. Não tinha vontade nenhuma, porque o pai decidiu em cima da hora, porque é tempo de qualidade que perco, por vários motivos mas decidi deixar, porque ambos queriam e porque me lembrei desta história. Como ele está a crescer esta história tem-se repetido imensas vezes e eu dou comigo a pensar se não será demasiada cautela (e canja de galinha)...

O rapaz portou-se bem

Depois de muita hesitação, lá o deixei em casa sozinho e correu tudo bem. Pelos vistos, durante estas férias vai acontecer algumas (muitas) vezes, vai daí, resolvi inventar-lhe umas tarefas para fazer. E por tarefas, entendam-se tarefas domésticas (adequadas à idade, não o vou meter a cozinhar) e não mais lazer, que isso já tem de sobra - hajam horas no dia que ele inventa o que fazer.

Posto isto, vou dar-lhe um armário para arrumar. Pode arrumar da forma que quiser, desde que cumpra uns requisitos que deixarei escrito no quadro de avisos (sim, que aquela cabeça consegue até procurar coisas com as mesmas na mão). Espero com isto que ele se mantenha ocupado durante umas horas e que aquela confusão de papeis de recomponha.

Mais uma contribuição para o meu papel de megera.

Sozinho em casa

Deixei o meu filho sozinho em casa e vim trabalhar. Calma, não chamem já assistentes sociais porque eu vou contextualizar a coisa, sim? Ele tem 11 anos e é uma criança inteligente; a minha casa está a poucos kms do trabalho; vou almoçar com ele; tem telefone e pode contactar-me, ou a outra pessoa, sempre que quiser.

 

O meu lado coruja teve vontade de o trazer comigo (já não seria a primeira vez) mas o meu lado sensato falou mais alto, aliás, argumentou mais alto, que ontem foi uma noite de debate entre mim e mim.

 

Eu sou uma mãe atrofiada. Sou mesmo, desde que ele nasceu. Sempre achei que aquela facilidade extrema que as mães adquirem no nascimento não me tinha calhado - nada veio com naturalidade, tenho dúvidas desde sempre e nunca tenho a certeza absoluta de estar a fazer bem, porque esta coisa de ser mãe ou pai é muita responsabilidade. E o pior é que, se houver consequências nefastas, quem as sente não somos nós, são os filhos! Não há lugar a rascunhos, estamos a desenhar o definitivo, a vincar bem o lápis no papel e não há borracha que nos valha. Ou então não é assim e eu não percebi ainda.

 

Quando ele era bebé (de berço) eu morava no mesmo prédio da minha cunhada e, muitas vezes, ela ia despejar o lixo e passava na minha casa para dois dedos de conversa. Aquilo deixava-me sem ar porque sabia que ela tinha o filho em casa, a dormir, e podia acordar. Ela, que nunca foi atrofiada e está a ter um ótimo desempenho como mãe, estava sempre tranquila e deixava-se ficar. Numa aconteceu nenhuma tragédia, os meus sobrinhos são saudáveis e crianças impecáveis. E o meu lixo era despejado de manhã, ou quando o pai dele chegava. Sabem porquê? Não era o facto de ele acordar e choramingar que me preocupava, era o sair de casa. Deixá-lo sozinho. Podia ser raptada e ele ficaria sozinho. Podia ter um enfarte  e ela ficaria sozinho (nunca me ocorreu ter um enfarte em casa..). Este exemplo (ah! sim, há vários) mostra como é ridículo (e perigoso para a confiança que lhe quero incutir) esta linha de pensamento. Eu ajo como se houvessem raptores, pedófilos, ladrões, assassinos, à porta da minha casa. Todos juntos e à espera que eu saia.

 

Não quero mais. Prefiro ensiná-lo como se deve defender de possíveis situações de perigo mas gostava que ele fosse uma criança confiante e segura, e não vai sê-lo se eu continuar a estar dentro da "bolha" que construí para ele. Esta noite dei-me conta que o meu filho nunca descascou uma maçã! Porque eu faço-lhe isso para ele não mexer em facas! Não pode ser. Estas férias vão ser de aprendizagem, minha e dele, e hoje foi o pontapé de saída.

 

Nota: São 10h46 e só mandei uma sms até agora (saí às 8h15).

Diz que é a adolescência

Estão a ver aquela conversa de que os filhos, para os pais, são sempre crianças? Que nunca crescem, que não sabem nada da vida? Pois. É mesmo verdade. Nós dizemos que sim, que sabemos que crescem, que os conhecemos bem mas é mentira. Se dúvidas houvesse, na sexta-feira passada deixavam de haver. O meu filho, uma jóia de moço até há poucos meses, passou-se da mona e deixou um post numa rede social que me arrepiou até os pêlos dos pés. Tão mau, tão mau, que passei o fim de semana inteiro a tentar encontrar um ponto wifi para apagar aquilo da dita rede social. E o que dizer do perfil? Nem sei. Digamos que metia asneiras. Muitas. Das grandes (E eu  não sou púdica, nem me choco com facilidade)

Suponho que tenha sido uma brincadeira, de muito mau gosto mas ainda assim, uma brincadeira. O que me assusta ainda mais porque ele não teve a noção do perigo, nem do impacto. Porque está crescido mas obviamente é uma criança, e como tal, nem se lembrou que tal coisas iria ser visto pela mãe, e por outras pessoas que não interessa nada chocar.

Ele tem onze anos. Onze anos apenas. E, enquanto os pais se preocupam com o peso das mochilas e com a qualidade das refeições na cantina da escola porque "são pequeninos", eles estão a crescer e a desbravar um novo mundo - o da sexualidade. E para isto eu não estava preparada, continuo a achar que é muito cedo.

E é mais difícil com rapazes ou sou só eu a ver assim? Parecem que estupidificam. Em conjunto, então, dá-me medo pensar naquela competição que fazem entre si, para ver quem é o mais atrevido, o mais destemido...

 

Felizmente para o moço, está de férias com o pai. Até à próxima sexta tenho tempo para digerir bem o assunto e pensar o que fazer.

E como se faz isto na vida real e todos os dias?

O meu filho cresce todos os dias e eu nem sempre me lembro disto. E ainda bem que cresce todos os dias porque, desta forma, eu tenho todos os dias um dia para me habituar a novas formas de pensar e novas formas de resolver problemas. É que isto de moldar um ser humano é coisa para dar cabo da cabeça de qualquer um, acho eu.  Pior ainda quando eu ainda ando na tentativa-erro comigo mesma...

 

Há umas semanas atrás, e depois de uns dias particularmente difíceis, o meu filho disse-me que gostava de ir viver com o pai. Pânico. Mágoa. Revolta. Tudo em fracções de segundo. Depois, recompus-me e disse-lhe "Não, não vais. A adulta ou eu e eu é que decido o que é bom para ti", e foi o melhor que fiz. Ele tem 11 anos e estava a chamar a atenção, não se colocam aqui questões maiores - era apenas uma chamada de atenção. E foi-lhe possível porque tem o pai e a mãe separados, se não fosse o caso teria recorrido a outra estratégia. A questão é que eu chateio muito. Exijo muito. Ralho muito. Às vezes, até grito, imagine-se. E Sua Excelência não queria ser incomodado, queria viver tranquilamente. No fundo, o que ele estava a tentar dizer-me era que existem outras formas de lhe dizer as coisas, e nem sempre é tudo tão importante, e grave, e sério, como eu penso. E estava certíssimo. Mas depois teve de ouvir aquilo que eu espero, muito sinceramente, que ele retenha como ensinamento - não se desiste das pessoas de quem gostamos apenas porque dá trabalho. Não se desiste de pessoas, ou situações mais penosas só porque nos custa, se o fruto daquele sacrifício valer a pena. Chegámos a um compromisso: eu deixo de fazer tudo a "ferro e fogo" e ele respeita o facto de eu ser adulta e saber mais do que ele, e principalmente, porque (essa justificação inabalável) sou a mãe. E a mãe é que manda.

 

Mas a verdade é que esta cena não me sai da cabeça. É impressão minha ou os miúdos não fazem ideia do que é um sacrifício? Que as coisas que valem a pena dão trabalho mas têm qe ser feitas? Sou só eu a achar ou eles crescem a pensar que as pessoas são descartáveis e substituíveis? E que as relações não dão trabalho? Fomos nós, pais, que ensinámos isso? Ou é muito cedo para pensar tão "à frente" estou, de facto, a fazer filmes?

 

Ser pai/mãe é uma responsabilidade do caraças! E se eu faço tudo ao contrário e crio um monstrinho? Ou uma pessoa infeliz? Ou uma pessoa que não sabe lidar com dificuldades?

Ai. Era o Manual de Instruções, fáxavore.

"Quando fores mãe hás-de perceber"

A minha admiração pela minha mãe cresce proporcionalmente aos desafios (chamo-lhe assim para ver se me convenço) que a educação do Dinis me tem dado. Desde que ele nasceu, minto, desde que fiquei grávida que sinto não estar preparada para esta tarefa, e se é verdade que ele nasceu e cresceu saudável até agora, também é verdade que eu nem sei bem como, porque a maior parte das vezes sinto-me assoberbada com tudo.

Quando ele era bebé tinha medo de ser negligente, de estar a passar-se alguma coisa e eu não saber, não detetar, de tal forma que ia ao hospital  uns dias antes de ele adoecer, ou seja, ainda estava "a chocar" e já eu ia para as urgências da pediatria... Enfim. Quando o instinto maternal foi distribuído eu devia estar ausente.

O certo é que, aos solavancos, com instinto ou sem e sempre a desejar um manual de instruções, eu sou a mãe. Sou a educadora. O meu papel é ensiná-lo a ser uma boa pessoa, um ser humano capaz e honesto, alguém feliz. E isto é muito difícil porque para isto acontecer é necessário fazer o papel de vilão, é necessário contrariar vontades e desejos, é preciso indicar o caminho sob a forma de proibição de outros, e é um papel tão, mas tão ingrato, é necessário dizer não e manter, é preciso vê-los chorar e sentirem injustiçados e os mais infelizes que povoaram o planeta. 

A minha mãe fez isto tudo e sentiu isto tudo e eu não dei por nada. Ouviu respostas tortas, mentiras, levou com amuos, desgostou de alguns amigos, viu escolhas erradas e eu não faço a menor ideia como conseguiu. Vezes três. É dose. Tão cedo não a chamo chata.:)

Confesso

Tenho uma coisa para contar. Há dias que ando a ganhar coragem para vir aqui meter isto por escrito. Não que seja grave, que não é, quero dizer, até pode ser se analisar com profundidade mas ainda não cheguei aí. É chato. Nem sequer sabia que era possível, estava convencida que isto não acontecia e pronto. Ok, então cá vai: o meu rico filho, essa jóia de moço, teve uma negativa. E vocês pensam que é normal, que nem toda a gente pode ser muito inteligente, que pode subir a nota nos períodos seguintes, dificuldade todos têm, e por aí fora. Pois, não é bem isso. O meu filho teve negativa a Educação Moral e Religiosa!

A sério? Há uma classificação negativa para atribuir nesta disciplina? Ahahahahahah. 'Pera lá! Mas isto não tem graça nenhuma. Uma negativa quer dizer o quê, que ando a criar um delinquente? Um ser insensível? Um ateu?

Admito. Pensei que fosse engano. Não é.

Na quinta-feira lá vou eu à reunião, às 8 da manhã (estes professores estão doidos?? a esta hora??) ouvir as razões para esta nota. As outras são satisfatórias.

 

 

 

Os pais, esses seres perfeitos que tudo sabem e tudo viram

Os pais mentem, são uns aldrabões descarados e mal-amanhados que vão inventando à medida da necessidade e da imaginação. Com o passar dos anos a tarefa complica-se, é só o que vos digo.

Começa quando eles são pequenos e com coisas inocentes como "a mãe já vem, ficas aqui só um bocadinho" e lá ficavam 8 horas diárias (a brincar) à espera que a mãe chegasse para os levar para casa novamente, gradualmente a coisa toma proporções complicadas de gerir - é mentir para educar. Eu ERA a favor da honestidade até ao dia das perguntas pós educação sexual, e quando já contamos dois casamentos, não há honestidade que nos valha. Depois deste dia, as perguntas sucedem-se, os temas mudam mas as mentiras... não. Claro que não faltava às aulas, claro que não mentia descaradamente aos meus pais, claro que estudava. Refilar com a minha mãe? Nunca na vida. Fumar na adolescência? Deixar tudo desarrumado? Esquecer-me de tudo? Deixar tudo para o último minuto? Na. Palavra de mãe.

"Casa de pais, escola de filhos"

O meu filho diz inúmeras vezes "não faz sentido", di-lo em todas as circunstâncias e sob qualquer pretexto. Comecei a ficar atenta para perceber a razão, afinal, ainda não chegou à fase de estar contra o mundo, só porque sim. Dei conta que, em vez de ler, procura erros ortográficos nos livros. Faz perguntas sobre o que não percebe mas não aceita o que lhe é explicado, "não faz sentido". Critica o Benfica do seu coração e opina que os jogadores são isto e quilo, têm a mania, etc. Os colegas do futebol não são aplicados, os colegas da escola não são educados (nem higiénicos). E outras, muitas outras. 

A crítica é tão constante que desenvolvi uma aversão à expressão "não faz sentido", é quase impossível não me sobressaltar quando a ouço, e foi aqui que me surpreendi: digo-a vezes sem conta! O meu filho é crítico porque assim o ensino a ser, não que lhe diga para agir dessa forma mas porque é o que aprende em casa. Que pena... Eu achava-me bem mais tolerante e gostava que ele aprendesse a sê-lo comigo. 

Mais uma coisa a rectificar.