Culpemos a silly season ou a minha sobrinha mais velha
A minha gaja mais velha foi uma pirosona do pior em criança - não podia passar ao pé de coisas cor-de-rosa, ou com purpurinas, ou brilhantes porque havia de querer trazer para casa. Se fosse sapatos, então, era a desgraça completa. E se fosse um par de sapatos, com tudo rosa, brilhantes e tudo incluído, então, era a loucura total! Felizmente, a idade trouxe-lhe o refinamento e o bom gosto e hoje é feminina mas com a devida contenção. Há limites que, mesmo uma lady, não deve transpor.
Pois que esta sobrinha além de ser linda de morrer, tem um jeitão para maquilhagem e decidiu profissionalizar a coisa. Resultado: aparece todos os dias com aquele ar de quem não se esforçou nada, de quem acordou assim, quando eu sei (foram muitas fraldas mudadas...) que o ar dela ao acordar é ligeiramente diferente. E uma pessoa, que sai de casa com a cara mal lavada, começa a pensar que, se calhar, devia ter mais cuidado. É que há uns anos, quando eu era gira e magra, na casa dos vintes e pré-depressão, saía de casa também com a cara mal lavada e tinha sempre bom ar! Um ar fresco, desempoeirado e trálálá, depois veio a vida, as olheiras, a pele cansada, maus hábitos alimentares e já está! Uma pessoa vai ver e está com ar pouco saudável. Envelhecido, até. E uma pessoa olha para a sobrinha e pensa que também quer fazer um up grade.
Surpresa das surpresas: gosto mesmo disto. Ainda estou em fase ora drag-queen, ora enfiei-a-tromba-numa-lata-de-tinta ora bêbeda-que-se-atreveu-a meter-rouge (há duas décadas que não ouço esta palavra) mas estou com fé que a hei-de acertar com a coisa, e que isto há-de parecer natural.
Aquilo que gosto mesmo, mesmo, é do ritual que guardo para mim. Dos minutos em que estou off e não penso em coisa nenhuma. Sinto que estou a cuidar de mim, a mimar-me, e é uma sensação que gosto mesmo.