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Rir e Comer Bolachas

Do Mal

Eu sei que não é solução, sei que é deixar o terror ganhar, sei que é dominarmo-nos pelo medo, sei tudo isso, mas o que sei não é o que sinto. Sinto vontade de agarrar o meu filho e apertá-lo, muito, contra o meu peito e deixá-lo ali, seguro. Sem ir a concertos, sem viajar, sem passear, sem conhecer pessoas novas e diferentes. Não é o que farei, mas é a vontade que tenho.

Até saber viver sem medo, vou focar-me nas pessoas que sobreviveram, naqueles que prestaram auxilio, nos heróis anónimos.

Pode ser hoje

E um dia acordas e tens vontade de mudar tudo. De virar a vida do avesso. De recomeçar. De fazer diferente e ser diferente. Houve um tempo em que pensei que mudar era falta de carácter, quer fosse mudar de opinião, de sentimentos, ou de atitudes. Implicava uma mudança e eu não gosto de mudanças, não confiava nas mudanças.

Hoje sei que é necessário e faz parte do crescimento. Geralmente, mudar é bom. Tudo muda, e nós também, e ainda bem. Significa que podemos mudar o que não gostamos. Repetirmos padrões, pensamentos, atitudes não vai trazer aquilo que não temos e queremos.

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(In)Decisões

Acho que estou avariada. Tenho medo que seja permanente.

Desde que me lembro de mim como pessoa que me lembro de ser decidida. Sabia o que queria e agia em conformidade, de imediato, sem mais pensamentos, sem mais decisões ou mistérios. Era para fazer, fazia-se. Dada a minha impulsividade, fazia porcaria a maioria das vezes mas, pelo menos, errava convicta. Agora o que se passa é muito mais frustrante, não me reconheço nas indecisões. Penso, decido, penso outra vez e decido ao contrário, depois penso e não me faz sentido, volto à ideia inicial e assim vou andando até a decisão ou não decisão produzir efeitos. É assim com tudo, desde a roupa que visto às decisões que tomo na educação do meu filho. Aquilo que gostava mesmo, mesmo, era de dar um saltinho ao futuro e descobrir o que acontece na sequência de qualquer um dos meus passos. Isso é que era.

Não me importo de errar. Já não. Percebi que é assim que aprendo e não exijo de mim a perfeição, que não existe. Fico frustrada é com esta insegurança que cresce de dia para dia e não a consigo fazer parar. Apenas no trabalho isto não acontece. Decido e está decidido, sem hesitações. Parece-me que, a este ritmo, seja sol de pouca dura.

Das expectativas

As expectativas são como as ervas e canas que crescem fartas na berma das estradas. De vez em quando, antes de chegar o calor e os incêndios, corta-se o mato, limpam-se as ervas e a paisagem até mais bonita, vê-se melhor. Assim somos nós, de vez em quando, a vida mostra-se como é, levamos um abanão e valorizamos o que temos e não invejamos a galinha alheia mas, depois, à medida que o tempo passa, as ervas crescem devagarinho e toldam novamente a visão. Como nós, que deixamos as expectativas virem de mansinho até obstruírem a visão do que já temos, do que já foi conquistado. 

Parece-me que nunca se teve tanto como temos hoje, com tudo aquilo que temos à disposição e que damos como garantido, e que nunca fomos tão insatisfeitos, ou mesmo infelizes.

Persistir na falta de persistência

Desde que me lembro que desisto das coisas, principalmente por dois motivos: falta de paciência para ver resultados que demoram ou por falta de resiliência. Começa a dar trabalho, a cansar, a ser necessário um investimento maior, ou constante, e já foste. Há um dia que prevarico, o outro também, e ah e tal, não deu. Também sei ficar muito aborrecida quanto constatam esta minha característica, não quero que pensem em mim como aquela que desiste, mas sim, que tenham em consideração todos os motivos que me levaram a desistir. Pois, sim. Não importa o que digo, o que aconteceu, se desisto, desisto, é isso que faço, e, em última análise, é o que sou.

Não gosto. Vou continuar a não gostar até mudar de atitude. Exceção feita a deixar de fumar e fazer exercício.

O Tinder e eu

Há umas semanas, por motivos que não vêm agora ao caso, instalei o Tinder. Deixei a curiosidade levar a melhor e lá andei a rodar à esquerda e à direita, num gosto-não gosto que me dá cabo dos nervos mas que faz parte. Acho um bocado redutor ter uns segundos para avaliar uma foto e decidir se me agrada ou não mas, se analisarmos bem, é o que fazemos no dia-a-dia. Se temos mais informação a completar o que os olhos absorvem? Temos, mas os olhos comem primeiro. Salvo seja.

Dizia eu que lá andei uns dias, enganei-me algumas vezes e, na tentativa de rever uma foto, acabava por fazer like em alguém. Ao fim de uns minutos, já tinha um match, o que me leva a crer que a maioria dos homens fazem swipe à direita em todas. Alguns são honestos e abrem o jogo logo de inicio: andam à procura de parceiras para sexo sem compromisso e sem falar, de preferência. Outros, mais carentes, dizem procurar a alma gémea, como legenda de uma foto de um por-do-sol. Arghhhhhhhhh. Encontrei muitos cromos, muito cromos. Fotos de arrepiar azunhas dos pés e largar o telemóvel com medo. Encontrei quem, depois de três frases de conversa de circunstancia, tentou umas frases de engate do mais básico ao estilo "acreditas em amor à primeira vista ou mando-te outra foto?" e depois encontrei uma pessoa agradável, com uma conversa muito interessante. No final da conversa, prometida nova brevemente pela parte dele, o que faz esta moça aqui? O óbvio, claro. Pensei que só podia ser casado. Ou aquilo era tudo fachada. Ou um psicopata qualquer. Ou pior, tudo isto em conjunto. E desinstalei a aplicação. No dia seguinte, à luz da sanidade mental que me resta, pensei que tinha sido um perfeito disparate e que, com toda a certeza, haveriam pessoas normais por ali. Eu, claramente, faço parte dessa gente. :)

Falei com mais duas pessoas depois disto, que me lembre. Um todo gingão, giro nas horas, com um corpinho danone. Desconfio que as fotos já teriam uns anitos mas tem mérito de igual forma. Aliás, era a única coisa que lhe valia, coitado, porque conversa não. Os assuntos morriam. O nível de interesse era alto, ao nível do tempo e campeonato de futebol. Da 3ª divisão. Mas houve outro. E o outro escrevia sem erros ortográficos, com pontuação, e com interesse. Com sentido de humor. Mostrou "dois dedos de testa" e eu deixei-me levar. As saudades que eu tenho de conversar com alguém assim, daquela forma...

Depois de muitas mensagens cá e lá, dei-lhe o meu nº e começámos a utilizar o whatsapp. Fechei a aplicação porque não é, definitivamente, a minha cena. Aborrece-me a conversa de encher chouriços e, se passarem logo à seduçãozinha barata, o efeito que surte em mim é fugir o mais depressa que conseguir. Mas esta pessoa tinha qualquer coisa diferente, com a qual me identifiquei e nem sei o que é. Achava-o evasivo, nunca quis dizer o apelido e aquilo começou a incomodar-me. Quanto mais gostava da conversa, quanto mais me identificava e tinha curiosidade para descobrir mais, mais me incomodava saber que estava a mergulhar em águas cujo pé não sabia calcular. Combinámos um jantar. Começou por café mas um jantar pareceu mais apropriado porque tínhamos muitos assuntos para falar. E eu ia mesmo. Estava a fazer-me bem ter umas mensagens no telefone sem ser conteúdos que sabia de cor, ou que incluísse uma lista de compras. Mas não cheguei a ir ao jantar... Googlei o nº dele e constatei que não me tinha ditomentira nenhuma. Em vez de ficar contente e sossegar, adivinhem lá o que fiz... Certo, entrei em pânico. Pensei que, se não me dizia o apelido, poderia esconder muito mais, e não tinha confiado em mim também, o que seria um péssimo indicio. Depois de um belo copo de tinto, disse-lhe isto tudo. Ele reagiu como se reage a uma louca e fez-me a vontade. Foi à vidinha dele e eu à minha.

Se me arrependo? Muito. Não sei, sequer se ter conhecido, pessoalmente, aquela pessoa faria alguma diferença, se teria havido alguma química, se era um banho de água mas sei que não consigo confiar nas pessoas, e tenho pavor de me envolver com alguém, de gostar da companhia de alguém. E isso é muito triste e não quero viver assim.

Não é liberdade se me detém.