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Rir e Comer Bolachas

Perguntas certas

Perguntaram-me há um tempo "Gostas da tua vida?" respondi que, se pudesse mudaria muitas coisas mas não posso e aprendi a gostar do que tenho. Ou pelo menos, a não ser infeliz com o que tenho. Talvez seja mais isso. Continuaram a perguntar "Gostas da pessoa que és?" e aqui a resposta doeu um bocadinho. Respondi que esta pessoa não era eu, que gostava de quem era antes, blá, blá, blá, whiskas saquetas. Devidamente distanciada da pergunta e da resposta, hoje sei que a resposta está errada mas a pergunta é a mais certa de sempre. Gosto da pessoa que sou? Não. Gosto dos meus valores, gosto daquilo que construí com esforço, gosto de certas características minhas mas não gosto do todo, do global, do conjunto. Dou muita importância ao que tenho de pior.

Finalmente, fizeram-me a pergunta seguinte - e o que podes fazer para mudar? Oh bolas! Se me perguntassem o que poderia acontecer para eu me sentir melhor eu sabia, agora o que eu posso fazer? Apeteceu-me responder "nada" mas era mentira, então respondi que podia fazer muito mas "não consigo". Esta é a minha resposta chapa 5. Não consigo resolve tudo, justifica tudo e funciona como uma absolvição, não tenho culpa porque não sou capaz. Bah. Só posso responder isto se tentar, e não é o caso.

 

Tenho perguntado muitas vezes a mim mesma - o que podes fazer para mudar o que não gostas em ti? E porque não fazes?

 

...

Disse que voltaria a escrever aqui no blog mas tem sido difícil. Nada do que tenho para dizer é o que quero ver escrito. Não é que seja mau, que não é, mas aborrece-me ver nas palavras aquilo que sinto, é como se se tornasse realidade.

 

Mas vamos ao início.

Há alturas em que ando em piloto automático: levanto-me, visto-me, trato do que tenho a tratar, trabalho, sorrio, cumpro, volto a casa, faço jantar, faço almoço, arrumo a cozinha e vegeto no sofá até cair de sono. Faz-me falta a companhia, mas se a tivesse é provável que nada dissesse, e que nada mudasse. A ausência é o meu bode expiatório. A solidão habituou-me a calar o que sinto, não a mim mas aos outros. Não a solidão de estar sozinha mas a solidão de saber que não sabem o que sinto. Como se tivesse que provar que eu continuo a ser eu, quando não sou. O eu que me conheceram não é o que vive em mim. Sou outra pessoa. Nem melhor, nem pior. Diferente. Não preciso que me enumerem os motivos para ser feliz, eu sei-os bem. E sou feliz. Ser feliz não me impede que me sinta assim às vezes, aliás, saber que tenho motivos para ser feliz e sentir-me miseravelmente ainda piora mais o meu estado, o meu humor.

 

Parece que a tristeza não tem lugar nesta vida que vivemos. Dizem-me "Anima-te" ou "Não fiques assim", como se existisse uma obrigação da felicidade permanente. Ou do positivismo. Leio em tudo quanto é artigo de opinião "livre-se das pessoas negativas"... Que raio... Vamos exterminá-las? Ou serão votadas ao silêncio? Cansam-me estes mantras ensaiados, ocos. É mais legítima a minha tristeza, que não é bem tristeza, mas um vazio permanente. Aquele vazio, um espaço enorme preenchido de nada, que a depressão me deixou, não é bom, nem é mau, é nada.

 

Sei que uma noite de sono, ou várias, vão adormecer este estado e irei acordar fresca e fofa, viva e a gostar. Mas agora estou assim. Para quem me vê, e se cruza comigo, estou "normal" mas eu sei, estou em piloto automático. Tornei-me uma mestre na arte de fingir que me sinto bem.

Ah a família...

... onde somos sempre bem acolhidos, entendidos e estimados. Que seria de mim sem a família?

 

Sobrinha mais nova escreve texto de fazer chorar as pedras da calçada, dedicado às mulheres fortes da família - a mãe, a irmã, ela própria e eu. Mãe responde ao texto e retribui o elogio dizendo que se acha não a mais forte mas a de melhor feitio (outra que precisa do teste da bazófia), a outra filha a mais sorridente e determinada, a filha que escreveu o texto, ela sim, é a mais forte e orgulhosa... E eu... Sabem o que sou eu? A mais "galinho-da-índia"!

 Para que conste: isto é bullying familiar! Humpf!

 

 

 

A sobrinha mais nova foi para Barcelona

Conseguiu sobreviver ao ranho e choro largados no aeroporto (eu não fui - havia fortes probabilidades de a trazer de volta e lançou-se à estrada, neste caso, avião e foi para terras de nuestros hermanos. Diz que vai estudar e tal. Eu cá acho que vai é para a gandaia, e muito bem, que eu faria o mesmo no lugar dela.

 

É tempo de descoberta, para ela de uma cidade nova, de pessoas e hábitos diferentes, para nós de tecnologias - ele é whatsapp, skype, facebook, o que houver. Haja net. Só não vale ficarmos sem saber dela. A verdade, verdadinha, é que não a sinto nada longe, até falo mais com ela agora do que quando morava em Lisboa... A proximidade geográfica dá-nos sempre a ilusão de que falamos muito. Mas isto tudo para dizer que lhe fiz recomendações - tira fotos, manda fotos, diz o que viste, como e porquê, escreve no blog, percorre a cidade toda, enfim, para a troca disse-lhe que também ia escrevendo aqui... O problema é que chego aqui e não sei o que escreva. Não me ocorre nada, não me apetece dizer nada e acho que nada do que possa escrever possa ter algum tipo de interesse para alguém. (Deve ser desta chuva que já aborrece, pá! Não se aguenta tanto cinzento. Argh!)

 

Mas cá estou. A escrever. Só não posso prometer que tenha interesse.{#emotions_dlg.clown}